Relembre: Cúpula do governo de SP fez acordo com PCC
A reunião foi feita dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo
No Brasil os fatos caem no esquecimento com muita facilidade, mesmo os mais assombrosos. A
traz para você uma notícia importante do jornal Correio Brasiliense de 2015 — os grifos no texto abaixo são nossos. E por que um assunto de quase 20 anos? Leia o que ocorreu à época e compare com a reação de Israel ao Hamas e também da reação do governo do Equador aos terroristas que recentemente fizeram ataques semelhantes no país. O Brasil precisa aprender como terrorista deve ser tratado.Depoimento obtido com exclusividade pelo jornal “O Estado de S. Paulo” mostra que representantes da cúpula do governo estadual fizeram um acordo com o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, para pôr fim à onda de ataques da facção criminosa, em maio de 2006. A reunião foi feita dentro do presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes.
A declaração, do delegado José Luiz Ramos Cavalcanti, foi dada durante depoimento em processo judicial que investigou advogadas supostamente ligadas ao crime organizado. Ele foi um dos escolhidos pelo governo para participar do encontro em 2006. Apesar de essa possibilidade ter sido divulgada na época dos atentados, o governo do Estado sempre negou o acordo com o PCC e admitiu apenas que a conversa com Marcola foi uma condição para a rendição da facção.
A proposta do crime organizado foi levada pela advogada Iracema Vasciaveo, então presidente da ONG Nova Ordem, que defendia o direito dos presos e, na época, representava o PCC: se os responsáveis pelo comando dos atentados nas ruas fossem informados de que Marcola estava bem fisicamente, que não havia sido torturado por policiais e que os presos amotinados não seriam agredidos pela Polícia Militar, os ataques seriam encerrados. O recado deveria ser dado pelo próprio chefe do PCC. O papel de Iracema era convencer Marcola a aceitar a ideia.
A cúpula das secretarias de Segurança Pública e da Administração Penitenciária, cujos chefes na época eram Saulo de Castro Abreu Filho e Nagashi Furukawa, respectivamente, aceitou a ideia da advogada. O então governador, Claudio Lembo, autorizou o encontro.
Missão
No depoimento, que está no processo criminal 1352/06, Cavalcanti conta que recebeu uma ligação em 14 de maio, dois dias depois do início dos ataques, do seu chefe Emílio Françolim - diretor do Departamento de Narcóticos, o Denarc -, convocando-o para a viagem. Na ocasião, dezenas de policiais já haviam sido mortos em atentados.
A missão do delegado era acompanhar a advogada Iracema Vasciaveo até o Presídio de Presidente Bernardes. Os dois e mais o corregedor da Secretaria da Administração Penitenciária, Antonio Ruiz Lopes, foram no avião da PM até Presidente Prudente, onde se encontraram com o comandante da região, coronel Ailton Brandão, e seguiram para o presídio.
Cavalcanti contou que Ruiz Lopes e o diretor do Presídio de Presidente Bernardes, Luciano Orlando, autorizaram que a advogada entrasse com celulares. Todos ficaram em uma sala e Marcola foi levado por um agente penitenciário. Iracema então se apresentou e começou a conversar com o chefe do PCC. Inicialmente, ela tentou convencê-lo a falar ao celular com outro criminoso, que comandava os ataques - o homem nunca foi identificado pela polícia.
Marcola se recusou. Ele teria lamentado a morte tanto de policiais quanto de bandidos. A advogada insistiu e, finalmente, o chefe do PCC aceitou a proposta. Como não fala ao celular, ele pediu para chamar o preso Luis Henrique Fernandes, o LH, que é de sua confiança.
Segundo Cavalcanti, “LH foi trazido para a sala e Marcola disse que ele poderia falar ao telefone e dar a mensagem da advogada; LH concordou, e a advogada entregou o seu telefone, que já tinha um número previamente gravado na memória, para onde LH ligou e conversou com uma pessoa desconhecida”.
O delegado negou a proposta de qualquer acordo, mas disse que Marcola pediu que a polícia respeitasse o direito dos presos, o que lhe foi garantido pelo comando da PM. Cavalcanti ainda relatou que “supõe que o bloqueador de celular tenha sido desligado”, pois LH fez algumas tentativas antes de completar a ligação. Por fim, declarou que “no fim daquele dia e no dia seguinte os ataques definitivamente parado”. O policial não quis dar entrevista, mas confirmou as declarações.
Celulares
A advogada Iracema Vasciaveo confirmou os fatos narrados por Cavalcanti. Segundo ela, a situação estava “fora de controle”. Ela contou que, quando recebeu a proposta dos bandidos, levou ao conhecimento de colegas na Polícia Civil.
“Naquele domingo (14 de maio de 2006), recebi um telefonema com uma ordem: que eu fosse para o Campo de Marte, porque de lá seguiria para Presidente Bernardes.” Lá, a advogada afirma que recebeu de um policial os celulares usados no presídio.
Ela também rejeita a palavra “acordo”. Segundo Iracema, “havia uma chance para encerrar os ataques, e tudo foi feito para que isso fosse possível”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
É importante lembrar que essas táticas terroristas usadas por grupos de narcotraficantes foram ensinadas ao PCC por meio das FARC, grupo terrorista colombiano, como relatou em detalhes Fernandinho Beira-Mar na reportagem da TV Record (link abaixo). A operação na casa de Bolsonaro ocorreu dois dias após essa matéria do Jornal da Record sobre PCC, FARC e eleições de 2022.
O link do jornal NÃO se encontra disponível para quem está nos EUA, seguido da mensagem: “O vídeo não foi disponibilizado em seu país pelo usuário que fez o envio”. Isso significa que não foi o YouTube que fez a restrição, mas o próprio Jornal da Record, ou a equipe digital do jornal.
O que aconteceu com Iracema, a advogada da ONG mencionada na matéria acima?
Matéria da Folha de São Paulo de 2007:
“A polícia prendeu, na manhã de ontem, em São Paulo, quatro integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Eles podem estar envolvidos no seqüestro do repórter Guilherme Portanova, da TV Globo, em agosto de 2006.
Foram presos por ordem judicial o ex-policial civil Ivan Raymondi Barbosa, presidente da ONG (Organização Não Governamental) Nova Ordem, acusada de ligação com o PCC, Simone Barbaresco e Anderson Luis de Jesus. A advogada Iracema Vasciaveo, diretora jurídica da Nova Ordem, foi presa em flagrante por porte ilegal de arma. Segundo a polícia, ela é uma das advogadas do PCC. Além de Barbosa, todos são integrantes da entidade -Jesus e Simone pertencem à diretoria da ONG.
No ano passado Iracema participou de uma reunião entre Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, considerado líder da facção, e o governo de São Paulo, para negociar o fim dos ataques da facção contra a polícia. Ela embarcou num avião da PM e se reuniu com Marcola no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP).”
O próximo passo do PCC agora é tomar por completo a Alta Corte (STF, STJ, TST, TSE e STM), o Congresso Nacional e infiltrar-se, ainda mais, no MP e no Judiciário, pois o resto já dançou.