Putin ameaça OTAN: uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia será tratado como guerra

Em recente visita à Ucrânia, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken informou que a OTAN está considerando retirar as restrições ao uso de mísseis de longo alcance pela Ucrânia.

O ditador russo, Vladimir Putin, emitiu um alerta aos líderes da OTAN, afirmando que a retirada das limitações impostas à Ucrânia sobre o uso de mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente, para atacar em profundidade o território russo, seria interpretada como um ato de guerra.

“Isso implicaria que os países da OTAN — Estados Unidos e nações europeias — estariam em guerra com a Rússia. E, nesse caso, considerando a mudança na natureza do conflito, tomaremos as devidas decisões em resposta às ameaças que se apresentarem a nós”, declarou Putin a jornalistas na quinta-feira.

As declarações de Putin ocorrem em um momento em que os aliados da OTAN, incluindo os Estados Unidos, parecem cada vez mais inclinados a permitir que a Ucrânia utilize sistemas de armamento de longo alcance, com o objetivo de atingir alvos militares russos. Essa demanda tem sido uma solicitação constante de Kyiv, especialmente à medida que o conflito avança para o segundo ano.

Durante uma recente visita a Kyiv, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, sinalizou que a Casa Branca estava reconsiderando as atuais restrições, dentro de um movimento estratégico mais amplo entre os parceiros da OTAN.

“Desde o primeiro dia, como vocês ouviram, ajustamos e adaptamos nossas ações conforme as necessidades evoluíram, conforme o campo de batalha mudou. Não tenho dúvidas de que continuaremos a fazer isso conforme a situação evolui”, afirmou Blinken, ao lado do ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sybiha, e do secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, desembarcou em Washington na sexta-feira para discussões com o presidente dos EUA, Joe Biden, centradas no uso de armamentos ocidentais em território russo. Antes desses encontros, o serviço de segurança russo, o FSB, anunciou a revogação das credenciais de seis diplomatas britânicos em Moscou, acusando-os de espionagem, segundo a Reuters.

Apesar das alterações na política dos EUA, permitindo ataques limitados em território russo com armas fornecidas pelos americanos, o presidente Joe Biden ainda não autorizou o uso de sistemas de longo alcance. Autoridades americanas anteriormente expressaram preocupações de que permitir a Ucrânia a atacar em profundidade no território russo poderia agravar o conflito.

Biden enfrenta pressões internas de parlamentares de ambos os partidos para que alivie as restrições, em meio às dificuldades da Ucrânia para consolidar avanços no campo de batalha, correndo o risco de ser contida pelas forças russas.

Na terça-feira, o caucus bipartidário do Congresso dos EUA sobre a Ucrânia solicitou a Biden que permitisse a utilização de armas de longo alcance para atacar alvos dentro da Rússia. Além disso, um grupo de importantes republicanos da Câmara dos Representantes enviou uma carta ao presidente antes da visita de Blinken à Ucrânia, reforçando os pedidos do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pela suspensão das restrições.

Por outro lado, Putin expressou dúvidas sobre a capacidade de Kyiv de realizar esses ataques de forma independente, afirmando que “o exército ucraniano não tem a capacidade de operar sistemas de longo alcance de alta precisão fornecidos pelo Ocidente” sem o apoio da OTAN no direcionamento dos alvos.

Atualmente, os EUA já fornecem inteligência à Ucrânia e, em ocasiões anteriores, ajudaram a direcionar ataques, embora não com os sistemas de longo alcance que estão sendo discutidos.

A Dra. Stacie Pettyjohn, pesquisadora sênior do Centro para uma Nova Segurança Americana, afirmou que as forças ucranianas também podem contar com outros recursos de inteligência, como imagens de satélite comerciais, dependendo do alvo.

Em uma coletiva de imprensa na quinta-feira, Blinken reiterou que os EUA continuam a fornecer inteligência à Ucrânia como parte de sua assistência militar, mas não comentou se o compartilhamento de informações seria intensificado.

Quando questionado sobre os riscos de escalada, Blinken afirmou que essa é uma preocupação, mas “certamente não o único fator, e não necessariamente o fator determinante”.

Blinken também acusou a Rússia de intensificar o conflito com a aquisição de mísseis balísticos do Irã.

“Nós já vimos a Rússia adquirir mísseis balísticos do Irã, o que fortalece ainda mais sua agressão na Ucrânia. Portanto, se alguém está agindo de maneira escalatória, parece ser o Sr. Putin e a Rússia”, disse Blinken.

Os Estados Unidos forneceram à Ucrânia mísseis de longo alcance do tipo ATACMS (Army Tactical Missile System), com alcance de cerca de 290 quilômetros, em outubro de 2023. Kyiv há tempos apela para que seus aliados ocidentais autorizem o uso de sistemas de armamento que permitam ataques mais profundos em território russo.

Em uma entrevista recente à CNN norte-americana, o ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, afirmou que aeródromos utilizados pela Rússia para lançar ataques contra cidades ucranianas estão dentro do alcance desses mísseis de longo alcance. Até agora, a Ucrânia tem utilizado seu estoque de ATACMS para atingir alvos estratégicos na Crimeia ocupada, como defesas aéreas, depósitos de munição e aeródromos.

Caso a OTAN avance com a autorização para o uso de armas ocidentais em ataques de longo alcance dentro da Rússia, essa tecnologia também poderá ser empregada para atingir sistemas de mísseis balísticos de curto alcance, recentemente enviados ao país pelo Irã, conforme explicou o ex-embaixador dos EUA, William Courtney, à CNN. Com um alcance de aproximadamente 120 quilômetros, sistemas americanos como o ATACMS “poderiam atingir qualquer coisa dentro dessa distância e além”.

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