Prejuízos com queimadas em SP podem alcançar R$ 350 milhões só no setor de cana-de-açúcar

Polícia de SP abre linha de investigação de possível envolvimento de membros do PCC e MST nos incêndios em SP após a prisão de 4 pessoas no último domingo (25/08).

A recente onda de incêndios que devastou canaviais no Estado de São Paulo pode gerar um prejuízo estimado em até R$ 350 milhões para os produtores de cana-de-açúcar. Esse impacto financeiro se deve às áreas atingidas pelas chamas entre sexta-feira (23/08) e sábado (24/08), segundo José Guilherme Nogueira, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele informou que 59 mil hectares de plantações foram consumidos pelo fogo nesses dois dias.

A Orplana calculou o prejuízo com base na queda da produtividade das áreas afetadas pelos incêndios. A entidade prevê que a produção nessas regiões, que normalmente ultrapassa os 100 quilos por hectare, deve despencar para cerca de 40 quilos por hectare. Nogueira destacou que, mesmo antes dos incêndios, a produtividade já apresentava uma redução significativa de 30% para a temporada 2024/25, índice que pode alcançar 60% devido aos novos danos.

Nogueira também explicou que os incêndios agravam ainda mais a situação devido à deterioração da cana após ser atingida pelo fogo. "A cana queima e começa a se deteriorar entre quatro a sete dias depois", disse ele, ressaltando que esse processo compromete tanto a colheita quanto a qualidade do produto, ampliando as perdas financeiras.

O CEO da Orplana relatou que, no sábado, foram detectados 305 novos focos de incêndio, enquanto na sexta-feira foram registrados cerca de 3.600 focos, uma quantidade "10 vezes maior" do que a registrada no mesmo período do ano anterior. A baixa umidade do ar e as altas temperaturas têm contribuído significativamente para a rápida propagação das chamas. As regiões de Olímpia e São José do Rio Preto foram as mais atingidas entre quinta e sexta-feira, enquanto Sertãozinho e Cajuru registraram as ocorrências mais graves no sábado.

Segundo o monitoramento da Orplana, houve uma melhora nas condições nas regiões afetadas pelos incêndios devido às chuvas do final de semana em cidades como Piracicaba, Monte Aprazível, Ribeirão Preto Campinas e Cajuru. A organização também está colaborando com o governo estadual em um gabinete de crise, mobilizando caminhões-pipa e outros recursos para controlar os incêndios.

Nogueira destacou a necessidade urgente de um plano de ação estruturado para lidar com as queimadas. "Precisamos de linhas de crédito mais acessíveis para a compra de caminhões-pipa e um reforço no efetivo de bombeiros", afirmou. Ele sugeriu que o Brasil adote estratégias inspiradas em modelos internacionais, como os de Portugal e Califórnia, para enfrentar a crescente frequência e intensidade dos incêndios.

Além disso, práticas humanas imprudentes têm contribuído para o agravamento dos incêndios. "Atos como jogar bitucas de cigarro na beira de estradas ou acender fogo próximo a áreas secas são frequentemente responsáveis pelo início das chamas", explicou Nogueira, sublinhando que "a maioria dos incêndios é causada por atividades humanas", o que destaca a importância da conscientização e de medidas preventivas.

São Paulo tem 48 cidades em alerta máximo para incêndios

O número de cidades em alerta máximo para incêndios em São Paulo subiu para 48 neste domingo (25). Contudo, a quantidade de municípios com focos ativos de incêndio caiu para seis, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil. Rodovias que estavam interditadas por conta da fumaça já foram liberadas.

Governo de SP em alerta máximo

Em resposta à crise, o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) criou um gabinete de crise na sexta-feira (23/08) para coordenar as ações de monitoramento e controle da situação. Neste último domingo (25/08), o Ministério do Desenvolvimento Regional enviou aviões para combater os incêndios em São Paulo. Segundo o ministro Waldez Góes, uma das aeronaves tem capacidade para transportar até 12 mil litros de água por voo.

A baixa umidade do ar e uma intensa onda de calor continuam elevando o risco de novos focos. As chamas cobriram várias cidades com fumaça, especialmente na região de Ribeirão Preto (SP), resultando na morte de dois funcionários de uma usina em Urupês, que tentavam conter o fogo.

Na tarde de sexta-feira (23/08), a qualidade do ar despencou, com o céu da capital paulista adquirindo uma coloração avermelhada, fenômeno causado pela refração dos raios solares na poeira e fuligem dos incêndios.

Quase 20.000 focos de incêndio em uma semana

Entre os dias 19 e 25 de agosto, o Brasil registrou 19.767 focos de incêndio, conforme dados do BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mato Grosso lidera com 4.251 registros, seguido de Pará e São Paulo, que contabilizou 3.051 focos.

Investigação de ação criminosa

Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, afirmou que há indícios de ação criminosa por trás dos incêndios, e que "será punida com todo o rigor que a lei oferece". Ele alertou para o impacto da fumaça em Brasília, que tem prejudicado a saúde de crianças e idosos. Rodrigues mencionou ainda que o movimento de incêndios é "atípico", mas que as conclusões finais dependem do término das investigações.

A polícia civil de SP prendeu quatro indivíduos suspeitos de iniciarem queimadas no interior do estado. Foi confirmado que um dos presos é integrante da organização criminosa PCC e outros dois tem fotos de bandeiras do grupo terrorista MST em suas redes sociais. Este fato levou a polícia de SP abrir uma nova linha de investigação de uma possível ação coordenada envolvendo as duas organizações criminosas.

---

Importante! Venha fazer parte da construção do Terça Livre junto com o jornalista Allan dos Santos. Apoie o retorno do Terça Livre CLICANDO AQUI!