Paul, o perfeito idiota útil
Os artistas, ao lado de jornalistas e educadores, são os idiotas úteis preferidos da vertente gramsciana
por Rafael Fontana, originalmente publicado no X (Twitter)
A música pop produziu 2 grandes gênios nos últimos 60 anos: um deles é Brian Wilson, o outro, Paul McCartney, cuja visibilidade nessas décadas fez o ex-beatle subir sozinho no topo do pódio de maior celebridade musical da virada do século XX para o XXI.
Sua última turnê pelo Brasil, a qual prestigiei em São Paulo, é prova irrefutável de que Paul, a lenda, consegue até hoje reunir no mesmo lugar milhares de fãs de todas as idades, famílias inteiras, vovós cantando Hey Jude junto com os netos em uma festa sem paralelo no mundo cultural.
Tal fenômeno o lança à condição de representar, ao mesmo tempo, o maior algoz e a maior vítima da indústria cultural, servindo como o mais perfeito idiota útil. E, como se sabe, o idiota útil é um tipo de inocente que desconhece sua condição, ele assume o papel de forma involuntária, e por isso mesmo consegue servir divinamente aos interesses de quem o manipula.
Bobo da corte
Em guerra política, constitui um erro de igual proporção subestimar ou superestimar um oponente. No caso de Paul, seria injusto superestimar. Ele não tem culpa, não mesmo. Ele é vítima, o rei do iêiêiê vira bobo da corte na mão dos teóricos marxistas.
Sabemos que as composições dos Beatles, com forte auxílio de George Martin, figuram entre as mais melódicas, criativas e harmoniosas de toda a história da música pop. Fato. O grupo alcançou um patamar de sucesso e ciclo de influência jamais repetidos por qualquer outra estrela musical. Nos 20 anos entre 1963 (quando Please Please Me foi lançado) até Say Say Say, a canção que Paul gravou com Michael Jackson em 1983, o músico de Liverpool merecidamente conquistou o espaço que o manteve no topo pelas 4 décadas seguintes.
Já como figura política... Paul é um grande músico. Seria um grande poeta se ficasse calado. Mas não fica, ele fala. Suas declarações e ativismo, dentro e fora do palco, soam tão infantis quanto as de Greta Thunberg, uma criança fantoche de agendas as mais esdrúxulas, e ao mesmo tempo perigosas.
Desde sua pueril defesa do consumo de drogas até o veganismo, absolutamente tudo veio de caminhos alheios à sua carreira musical. Nessa seara, nenhuma frase, nenhuma mesmo, foi originalmente cunhada pelo compositor dos Beatles. Não passa de uma repetição de besteirol sem fundamento, rezando uma cartilha cultural incapaz de resistir à breve leitura de Yuri Bezmenov.
Paul não frequentou as bancas universitárias e nunca se propôs ser um intelectual. Jamais se aprofundou em Adorno, Horkheimer, Marcuse ou Benjamin, nem em qualquer outro lixo filosófico semelhante à escumalha da Escola de Frankfurt. Sem saber, Paul milita nas causas daqueles que desprezavam os Beatles. Ora, os filósofos frankfurtianos eram devotos da música erudita, fãs de Bach, Mozart e Beethoven, os três grandes gênios da música, e Schoenberg (no caso de Adorno), entre outros compositores clássicos.
Os Beatles, portanto, não faziam parte do cardápio sonoro desses filósofos. Mas sabemos bem que os artistas, ao lado de jornalistas e educadores, são os idiotas úteis preferidos da vertente gramsciana. Assim, o quarteto de Liverpool rapidamente se converteu em queridinho dos ideólogos.
Um casal teria sido coroado como o maioral dos maiorais entre os idiotas úteis da História, só que John Lennon levou um tiro em Nova York em 1980. Sem carisma, tampouco talento, a histérica Yoko Ono exerceu uma limitada influência desde então. Paul herdou sozinho a missão de levantar bandeiras sem conhecer o seu significado.
No show de São Paulo, à certa altura, a banda de Paul aparece no palco com uma bandeira do arco-íris, flamulada ao lado das bandeiras da Grã-Bretanha e do Brasil. Quem, além de uma criança, misturaria bandeiras de nações com a de algo que sequer existe?
Veja bem, não é hipocrisia, é puro desconhecimento mesmo, é impossível o cantor não se contradizer com a sua condição de marionete cultural quando, minutos depois, retorna à sua condição humana. Na hora em que vovós e netos entoam Hey Jude, Paul volta a ser o gentleman que marca a sua genética XY.
Paul McCartney praticamente vira um pregador do Gênesis, um verdadeiro guerreiro das Cruzadas ao se dirigir às milhares de famílias no estádio lotado, bem na hora do refrão chiclete Na na na na na na na!!! de Hey Jude.
Paul olha bem para a platéia e diz o seguinte:
- “Agora, só as MULHERES.”
Depois: “agora, só OS HOMENS.”
É isso mesmo, Paul, grande show.
Infelizmente há muitos como ele pelo mundo todo. Outros dois tristes exemplos são Bono Vox e Roger Walsh.