A história não contada de Fidel Castro que seu professor de história jamais falou
“Já disse isso muito claramente: não somos comunistas. Que fique bem claro”. Foi assim que Fidel Castro falou em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos, em abril de 1959.
A Revolução Cubana foi consumada em 1959 com um programa de reformas distante do marxismo-leninismo que proclamou anos depois.
A influência da URSS
“Sei que estão preocupados se somos comunistas. Mas já disse isso muito claramente: não somos comunistas. Que fique bem claro”, disse Fidel Castro em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos, em abril de 1959.
A revolução havia triunfado três meses antes, e o novo governo buscava o apoio dos EUA. Em todos os discursos durante a viagem, insistiu que seu projeto era democrático, que defenderia os direitos humanos e a liberdade de imprensa, a qual definiu como “o primeiro inimigo da ditadura”.
Em junho do mesmo ano, o diretor da CIA, Allen W. Dulles, apresentou ao Senado dos Estados Unidos um relatório detalhado sobre o líder cubano.
“Não acreditamos que Castro tenha qualquer inclinação comunista. Também não acreditamos que ele esteja sendo apoiado ou trabalhe para os comunistas”, afirmou.
No entanto, em 22 de dezembro de 1961, declarou exatamente o contrário em um discurso memorável.
“Essa capacidade de criar, esse sacrifício, essa generosidade uns com os outros, essa irmandade que hoje reina em nosso povo, isso é socialismo! E essa esperança, essa grande esperança para o futuro, isso é socialismo! E é por isso que somos socialistas, e é por isso que sempre seremos socialistas, é por isso que somos marxistas-leninistas, e é por isso que sempre seremos marxistas-leninistas!”, exclamou perante uma multidão reunida na Praça da Revolução, em Havana.
Quatro anos depois, fundou o Partido Comunista de Cuba, que se tornou o único aceito na ilha. Até então, as liberdades de expressão, imprensa e protesto já haviam desaparecido. O que mudou entre 1959 e 1961?
O programa de Fidel Castro
“Não há nenhum elemento que faça pensar que em Sierra Maestra (onde os insurgentes se esconderam no início da revolução) o projeto tinha um conteúdo socialista. Nem pela formação de Fidel Castro nem por qualquer outra coisa. O único que poderia ter tido algo era Che Guevara”, conta Marcello Carmagnani, professor de História da América Latina na Universidade de Turim, em entrevista à Infobae.
“O próprio Partido Comunista negou apoio a ele. Essa é a melhor prova”, acrescenta.
O Movimento 26 de Julho, com o qual Castro liderou a derrubada do ditador Fulgencio Batista, começou em 1953, com o assalto ao Quartel Moncada em Santiago de Cuba. Esse ataque falhou e os líderes guerrilheiros foram presos, mas seis anos depois alcançariam a vitória sob princípios muito semelhantes.
“Quando tentou tomar o Moncada, ele expôs seu programa”, diz Carmagnani. “Buscava uma democratização profunda do país, mas sem romper laços com os Estados Unidos. Apenas propôs uma maior diversificação das relações econômicas. Não mencionou fechar o Congresso, mas reorganizá-lo. Era um programa claramente liberal democrático”.
Disso ele tentou convencer políticos e empresários americanos durante sua viagem a Nova York, na qual foi bem recebido.
A sovietização da Revolução Cubana
Apesar das boas intenções inicialmente mostradas por Fidel Castro em sua viagem aos Estados Unidos “mudou de direção”. Em 17 de maio de 1959, Castro implementou uma agressiva Lei de Reforma Agrária, confiscando propriedades com mais de 420 hectares. Essa medida, tomada sem negociação com os proprietários, causou os primeiros conflitos com Washington, já que muitos dos afetados eram americanos.
Percebendo o potencial conflito emergente, os emissários da União Soviética (URSS) começaram a agir imediatamente. Em fevereiro de 1960, ocorreu a primeira visita oficial à ilha, liderada por Anastás Mikoyán, vice-primeiro-ministro soviético (foto). Visando conquistar o novo governo, que necessitava de dinheiro, a URSS concedeu um crédito de cem milhões de dólares e assinou tratados para comprar açúcar de Cuba e vender petróleo.
Continuando com suas políticas de confisco, em 29 de junho, Castro avançou sobre as refinarias da Texas Oil Company, Shell e Esso. Em represália pelos direitos afetados sem compensação, o governo de Dwight Eisenhower decretou uma significativa redução nas compras de açúcar.
Como resposta, o governo revolucionário confiscou praticamente todas as empresas americanas na ilha, incluindo refinarias de petróleo, usinas de açúcar, companhias de telefonia e de eletricidade.
“Quando expropriou as empresas açucareiras americanas, Castro acabou criando um confronto com os Estados Unidos, que responderam impondo um bloqueio, com a ideia de que o processo poderia ser revertido. Mas foi então que a influência soviética se aprofundou”, explica Carmagnani.
A guerra se intensificou em 16 de dezembro, quando Eisenhower eliminou a cota de açúcar e estabeleceu um bloqueio total. Em 3 de janeiro de 1961, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba.
A partir desse momento, a ilha ficou a serviço da URSS, que começou a enviar seus navios e se comprometeu a comprar toda a açúcar que os Estados Unidos deixaram de importar.
A crise entre os Estados Unidos e Cuba se intensificou ainda mais com a invasão da Baía dos Porcos, realizada por exilados cubanos com apoio de Washington. Três dias depois, a ofensiva foi repelida pelas Forças Armadas Revolucionárias. Mas isso serviu como prelúdio do momento de maior tensão na história da Guerra Fria: a crise dos mísseis.
No final de 1961, Castro pediu proteção a Nikita Kruschev, presidente da URSS, que viu uma oportunidade única de instalar uma base militar a menos de 200 quilômetros dos Estados Unidos. Como sinal de seu compromisso total, o presidente cubano se declarou marxista-leninista e adaptou seu governo ao modelo soviético.
“Então começou um processo de sovietização das universidades, dos programas escolares e da polícia secreta. Isso foi determinante para a Revolução Cubana”, explica o historiador.
A partir de 1962, de forma muito discreta, Moscou começou a transferir para Havana um impressionante arsenal. Estima-se que foram instaladas 24 plataformas de lançamento, 42 mísseis R-12, 45 ogivas nucleares, 42 bombardeiros Ilyushin Il-28 e 40 aeronaves MiG-21.
Após meses de implantação, o plano foi descoberto pela inteligência americana. Em resposta, em 22 de outubro de 1962, o presidente John F. Kennedy anunciou o estabelecimento de um bloqueio naval e aéreo sobre Cuba. Um ano depois, Kennedy foi assassinado.
Assim se desencadeou a crise que manteve o mundo em suspense por seis dias. Nunca antes, nem depois, a ameaça de uma guerra nuclear foi tão grande. Mas as negociações, das quais Castro foi totalmente excluído, acabaram prevalecendo.
Em 28 de outubro, foi assinado um acordo pelo qual a União Soviética retirava todo o seu armamento nuclear e não-convencional de Cuba, em troca do compromisso dos Estados Unidos de não apoiar qualquer tentativa de invasão a Havana e de retirar os mísseis que tinha na Turquia.
A crise dos mísseis mostrou a completa submissão de Cuba à URSS. “Kruschev foi muito inteligente e conseguiu fazer em Cuba o que já havia tentado em outros lugares sem sucesso. Isso hipotecou a Revolução Cubana”, conclui Carmagnani.
Se o líder soviético da época, Kruschev, conseguiu "hipotecar" a Revolução Cubana, hoje o credor envolvido em guerra vê o seu bem se estagnar. E no Brasil se vê o Ladrão com claras intenções de hipotecar o pais.