Escola de samba que retratou policiais como demônios pode ter ligação com o PCC
Beto Bela Vista tinha vínculos anteriores com a Vai-Vai como ex-diretor e é apontado pela polícia como um dos chefes do PCC em São Paulo
A escola de samba Vai-Vai, após apresentar uma ala em seu desfile de 2022 que retratava policiais de forma negativa, obteve um empréstimo de R$ 300 mil de um indivíduo ligado à liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC), com o objetivo de financiar sua participação no carnaval daquele ano. Esse indivíduo, identificado como Luiz Roberto Marcondes Machado de Barros, ou Beto Bela Vista, tinha vínculos anteriores com a Vai-Vai como ex-diretor e é apontado pela polícia como um dos chefes do PCC em São Paulo. Esse fato veio à tona por meio de uma investigação da Folha de S. Paulo, que revelou a existência de um processo contra Luiz por lavagem de dinheiro, no qual o empréstimo foi documentado.
Uma seção do desfile da escola incluía participantes vestidos como membros do Batalhão de Choque, representados de maneira demoníaca. Documentos confidenciais acessados pela Folha indicaram que a transação financeira foi notificada à Polícia Civil por Luiz Pereira de Mattos Filho, então presidente do Conselho Deliberativo da Vai-Vai, e confirmada pelo presidente da escola, Clarício Aparecido Gonçalves.
Em outro aspecto da investigação, foi revelado que Beto Bela Vista havia adquirido e posteriormente vendido dois terrenos por uma soma significativamente maior do que a compra, logo após o empréstimo à Vai-Vai, o que levantou suspeitas de lavagem de dinheiro. Embora a compra dos terrenos não tenha sido imediatamente questionada, a rápida valorização e revenda dos lotes, juntamente com o empréstimo à escola de samba, foram vistos como potenciais indícios de atividades ilegais.
Luiz Roberto, que cumpriu aproximadamente dez anos de prisão e foi liberado em 2014, possui um histórico de envolvimento em crimes variados. Apesar das acusações, a Vai-Vai afirmou que o empréstimo foi “formalizado legalmente” e parcialmente quitado, com o saldo sendo compensado por meio de “publicidade” para a empresa de Luiz Roberto. A escola e a defesa de Luiz Roberto negam qualquer ilegalidade nas transações ou associação com atividades criminosas.
Paralelamente, um projeto para uma nova sede da Vai-Vai enfrenta obstáculos legais e urbanísticos, após ser revelado que o terreno adquirido está em uma zona com restrições específicas de uso, o que pode comprometer a viabilidade da construção conforme planejado. A controvérsia inclui alegações de que a escola não estava ciente das restrições, enquanto a defesa de Luiz Roberto insiste na legalidade de todas as transações envolvidas.
Este caso ilustra os complexos desafios enfrentados pela Vai-Vai, que se encontra no meio de uma situação complicada envolvendo questões legais, urbanísticas e supostas ligações com o crime organizado, afetando seus planos futuros e a construção de uma nova sede.